Vivian POV
As piores e mais estranhas férias da minha vida haviam finalmente passado. Agora eu já tinha algum controle maior dos meus poderes. Já podia fazer uma espécie de faísca flutuante na palma das minhas mãos e a controlar. Além disso eu tinha a sensação de poder enxergar algo emanando das pessoas, que meus instintos de alguma forma me diziam ser o calor emanando das pessoas. A princípio era estranho, mas logo se tornou natural ter tais habilidades, e nem mesmo eu podia compreender o porquê.
Assim que desci do escolar decidi me sentar em um assento de pedra longe dos alunos que esperavam o portão abrir, e esperei Ismael chegar, já que ele costumava chegar antes da Gabrielle e da Ana, mas ele não veio. Nós três estávamos preocupadas já que ele não havia mandado mensagem alguma por semanas. Ana não tardou chegar e logo veio me procurar. Acenei para ela quando entrou pelo portão da escola, e ela rapidamente veio se sentar ao meu lado.
- Oi Ana.
- Eai Vivian, como você tá?
- Bem melhor que antes. – Estávamos um pouco sem jeito depois do que aconteceu, então ficamos quietas por alguns instantes até que Ana retirou uma pedra da sua mochila. Fitei a pedra, confusa.
- O que é essa pedra?
- Vivian, olha isso. – Ana respirou fundo e concentrou seu olhar na pedra, que em poucos segundos começou a mudar sua forma, de uma pequena rocha bruta para um pequeno bloco que parecia ter sido acabado de ser lapidado. Fiquei estupefata.
- Ana isso é incrível!
- Você também pode fazer coisas parecidas agora, né? Deixa eu ver. – Assim que ela pediu, friccionei minhas mãos por uns instantes, e quando as abri, uma pequena faísca surgiu entre elas e se tornou uma chama flutuante. Ana olhou a chama por alguns segundos, verdadeiramente impressionada até que eu a apagasse com minhas mãos.
- Bem, isso é estranho.
- É sim, Ana. Mas é legal.
Logo em seguida, Gabrielle entrou pelo portão e assim que nos viu, andou até nós e se sentou ao nosso lado. De todas nós ela parecia ser a que estava mais equilibrada.
- Oi Vivian, oi Ana.
- Ei Gabi. – Nós duas respondemos.
- O Ismael não chegou ainda, certo? – Ela perguntou. Balancei a cabeça em sinal de “não”.
- Talvez demore para ele voltar pra escola depois do que aconteceu. – Ela comentou, e soltou um suspiro em seguida.
- Vamos esperar pra ver. – Eu a disse. Em seguida Gabrielle pegou sua garrafa d’água na mochila.
- Gente vocês também podem fazer coisas assim? – Ela perguntou, enquanto destampava sua garrafa de plástico, meio cheia de água. Por alguns instantes, Gabrielle ficou estática, olhando para a água da garrafa, até ela começou a se mover contra a gravidade e subiu até sair pela boca e flutuar até parar na mão esquerda dela. Eu e Ana ficamos impressionadas novamente e fizemos as mesmas demonstrações. Claro que estávamos tentando ser as mais discretas possíveis. Por sorte ninguém estranho nos viu.
- Não acredito que aquilo que passamos nos fez ganhar poderes. Isso é quase igual os filmes ou os animes. – Comentei.
- Mas não acha estranho? Como conseguimos controlar essas coisas agora e antes não? – Gabrielle perguntou.
- Olha, eu não faço a menor ideia, mas sei que isso está natural demais para mim. – Após alguns minutos, o portão da escola abriu e fomos até as escadas em frente a ele, que levavam até os prédios com nossas turmas. Gabrielle era da sala do Ismael, então ela foi para outro prédio. Quando subi as escadas, olhei pela sacada alguns instantes e nem sinal dele. O sinal tocou e a professora da minha sala veio rapidamente. Aproveitei os últimos instantes com tempo livre e fui até a sacada uma última vez. Pude ver sua silhueta de relance e imediatamente voltei para a sala, indo até minha carteira.
- Ana! Vem cá. – Ela veio imediatamente, ficamos observando a escada por onde Ismael tinha que subir para chegar até sua sala, e de fato, vimos ele a subindo, sem notar na nossa presença. Eu e Ana nós olhamos e em seguida nos sentamos em nossas carteiras para o início da aula.
Ismael POV
Finalmente estava de volta na escola. Eu não estava conseguindo me alimentar muito bem devido aos eventos passados, mas já havia feito algum progresso em melhorar. Meus pais me levaram em um psicólogo, e em seguida a um psiquiatra. Não falei exatamente o que havia acontecido pois eu sabia que seria ruim, mas o diagnostico final foi que eu havia entrado em depressão, o que deixou meus pais muito preocupados, fazendo me sentir pior ainda. Tomar antidepressivos me deixavam um pouco sonolento ao longo do dia, o que era uma chatice, mas eu tinha que tolerar.
Assim que o primeiro horário acabou, Gabrielle, que me fitou diversas vezes durante a aula veio conversar comigo do lado de fora da sala antes de irmos para a quadra.
- Ismael, você sumiu. A Vivian e a Ana estavam preocupadas. – Ela perguntou. Eu já imaginava que as três haviam se preocupado comigo durante as semanas que me afastei do mundo.
- Eu não estava muito bem. Não depois do que aconteceu. – Gabrielle me olhou por alguns instantes e depois desviou seu olhar. Eu já sabia que ela não era boa para dar conselhos ou dizer palavras que poderiam me fazer melhor, mas depois de ter matado três pessoas com minhas próprias mãos, palavra alguma poderia me fazer sentir melhor. Outra razão por ela estar agindo assim talvez fosse o simples fato de que eu acabei com a vida de outros seres humanos semanas atrás.
- Ismael, tem algo acontecendo com você? Coisas estranhas? – Ela quebrou o silêncio. Estranhei a forma como ela me perguntou isso e não soube ao certo ao que se referia.
- O que você quer dizer com isso?
- Bem, eu e as meninas... estamos conseguindo fazer coisas estranhas. – Na hora pude entender. Eu não era o único que havia desenvolvido alguma forma de poder. No meu caso, além de eu poder enxergar o “fluxo” do ar atmosférico, eu podia o manipular, causando uma brisa leve por alguns instantes com os gestos corretos. Pela expressão que eu estava fazendo, Gabrielle já pode adivinhar que eu também havia obtido poderes.
- Pode ser estranho, mas parece que a água está... reagindo ao que eu faço penso. E você?
Senti a relutância em sua voz. Ela parecia temer que eu não estivesse diferente desde a última vez e achasse estranho o que ela disse. Respirei fundo e coloquei meu cotovelo na mureta da sacada para apoiar meu rosto.
- Creio que posso controlar o ar. Além disso eu posso enxergar o vento e o caminho que ele trilha. É bem estranho e até mesmo um pouco assustador poder ver as cores do ar.
- Entendo. Eu podia imaginar que nós quatro fomos afetados. Enfim, vamos para a quadra. Depois no recreio falamos disso. – Assenti e desci as escadas com Gabrielle logo atrás. No caminho pude ver algumas alunas comentando algo sobre um novo professor alto, forte, de cabelos brancos lisos na educação física.
- Gabi, ouviu falar de algum professor novo?
- Olha, eu escutei algumas pessoas falando. – Assim que cheguei na escada olhei para a quadra e vi que realmente havia um homem muito alto na quadra, de braços cruzados vendo os alunos de nossa sala que haviam saído na nossa frente. Ele parecia ser um homem bem sério e até meio assustador.
- Caramba ele é bem alto. – Comentei, e andei até entrar na quadra. Quando o vi mais de perto que assustei. Era um homem que aparentava ter por volta dos 40 anos, porém tinha cabelos lisos e brancos que caiam em algumas franjas em frente dos seus olhos, e uma barba branca que lhe cobria perfeitamente o rosto. Ele estava vestindo uma blusa de frio esportiva cor preta com algumas estampas azul escuro e uma calça moletom também azul escura de marca. Mesmo seus tênis verde escuro e preto pareciam ser importados. Definitivamente era alguém com dinheiro de sobra, mas o mais impressionante sobre sua aparência era sua estatura. Com certeza devia ter pelo menos um metro e noventa de altura, e era incrivelmente musculoso, tanto que os contornos de seu peitoral e de suas panturrilhas apareciam pelas suas roupas. Seu nariz reto e penetrantes olhos castanho escuro faziam seu rosto ser ainda mais intimador, mas talvez para as garotas da sala, o conjunto completo de sua aparência já o tornava atraente o suficiente.
Tanto eu quanto Gabrielle continuamos fitando ele até nos aproximarmos. Decidi andar até ele e fazer o primeiro contato. Ele estava de costas quando eu estava chegando, e como por mágica, ele se virou e olhou diretamente nos meus olhos, como se já soubesse que eu estava vindo. Me surpreendi e parei meu andar diante dele. Demorei meio segundo para reagir corretamente:
- Você é o novo professor, certo? Meu nome é Ismael. É um prazer.
Tentei desviar o olhar, mas de alguma forma estava preso ao seu olhar intenso por alguma sensação estranha que ele emanava. Parecia que as pessoas ao redor, exceto Gabrielle, não haviam notado algo estranho vindo dele, e conseguiam agir naturalmente.
- O prazer é meu, Ismael.
Ele estendeu sua mão para me cumprimentar, e retribui o gesto, apertando sua mão. Pude sentir uma forte sensação quando o toquei, e sua expressão pareceu mudar por um ínfimo instante. Geralmente eu perguntava os nomes dos professores novos, mas me esqueci de o fazer naquele momento, e logo em seguida ele foi até Gabrielle.
- Você também é da sala? Qual é seu nome?
Gabrielle também demorou um pequeno instante para reagir, assim como eu. Era evidente que sentíamos a mesma coisa daquele homem.
- G-Gabrielle. É um prazer, professor.
Ele estendeu sua mão para cumprimenta-la e ela retribuiu o gesto como eu fiz, e mais uma vez, sua expressão mudou levemente por um curto período. Em seguida ele andou até a arquibancada onde estavam alguns outros alunos. Aparentemente ele deixaria que os alunos tivessem aula livre e fizessem os esportes que bem entendessem na quadra. Eu e Gabrielle voltamos a andar juntos e fomos até algumas mesas de tabuleiro mais afastadas dos cantos movimentados da quadra. Assim que chegamos lá, nos sentamos em lados opostos da mesa e olhamos novamente para o professor.
- E ai, o que acha? – Perguntei.
- Ele não é normal. Senti alguma coisa estranha quando cumprimentei ele. – Após dizer isso, ela olhou para sua mão por alguns segundos antes de voltar seu olhar para o professor.
- Também creio ter sentido algo. Mas ninguém além de nós parece estar percebendo. Será que são esses... você sabe.
- Creio que sejam os nossos poderes sim.
- Isso só pode ser coincidência. E pra variar, esqueci de perguntar seu nome. Muitas coisas estranhas estão acontecendo.
- É verdade.
- Vamos nos encontrar com a Vivian e a Ana no horário do recreio assim que possível. – Lembrei que devia mostrar para ela os novos poderes que eu havia obtido.
- Eu tenho que te mostrar os poderes agora, certo? – Gabrielle assentiu e me observou. Fiz um movimento simples, como se estivesse dando um tapa suave no vento, e o ar se deslocou fazendo uma pequena brisa, levantando as folhas das plantas perto do muro. Gabrielle pareceu um pouco impressionada.
- Eu já vi várias destas demonstrações hoje e ainda não consigo acreditar que temos esses poderes agora.
- Eu também não. – Respondi e depois voltei para o meu assento.
- E as meninas, que tipo de poder que elas têm?
- Eu aparentemente posso controlar a água. Vivian pode gerar fogo e Ana pode mover pedras e alterar a forma delas.
- Os quatro elementos? Entendo. – Gabrielle voltou sua atenção para o celular, e eu notei que estava acontecendo uma partida de queimada numa seção próxima da quadra. Eu não era o tipo de ficar atoa nesse tipo de aula, especialmente se viessem com algo como queimada ou vôlei.
- Gabi, vou jogar uma partida.
- Vai lá. – Ela disse, agora escutando música com fones de ouvido. Deixei o local onde ela estava e fui até a quadra. Rapidamente entrei no time com menos jogadores, equilibrando a partida. Por sorte a bola havia parado em nosso campo. O membro que estava com a bola, um colega um pouco mais alto e com um corpo aparentemente bem mais forte que o meu estava cuidando da parte ofensiva, lançando a bola contra o time inimigo, enquanto o resto só tentava desviar ou agarrar a bola se possível, enquanto na outra equipe, haviam pelo menos três alunos, duas meninas e um menino, que tinham lançamentos bons. Qualitativamente estávamos bem atrás do outro time. Para piorar, eu estava ainda muito pensativo e não estava prestando muita atenção na partida, quando dei por mim, o time inimigo já havia recuperado a bola e o melhor lançador do time deles estava mirando na pessoa mais exposta do time. Tentei dar uma arrancada para trás, mas a bola já havia sido lançada na minha direção, e já imaginava que seria queimado. A bola iria acertar o lado do meu rosto em cheio, porém, notei que a bola parecia estar mais lenta do que deveria estar, e consegui desviar no último instante, virando meu pescoço e virando meu corpo levemente para o lado. A bola passou direto por mim e acertou a parede em cheio. Uma garota da minha equipe pegou a bola e andou até minha direção.
- Você ainda não lançou, vai lá. – A colega de equipe me ofereceu a bola. A peguei no ar com uma só mão.
- Obrigado. – Me virei e andei calmamente até marca do meio da quadra, que delimitava o território de cada time. Todos já estavam no lado oposto, o mais distante possível de mim. Fechei meus olhos e respirei fundo. Ao lançar a bola, notei algo estranho novamente. Dessa vez senti uma energia descomunal correndo pelo meu corpo. Lancei a bola na direção da pessoa que havia tentado me queimar. A bola cortou o ar com uma velocidade descomunal em comparação com qualquer saque anterior que eu já havia feito, estando ao mesmo nível dos melhores jogadores de queimada da escola ou mais. A bola acabou acertando a perna do garoto que havia lançado a bola em mim. Eu estava chocado com este desempenho, que continuou pelo resto da partida. Terminei por queimar outras cinco pessoas antes do jogo terminar, e por alguns momentos até houveram reclamações que meus lançamentos eram fortes e precisos demais.
“Nossos corpos estão mudando...” Pensei, antes de voltar até onde Gabrielle estava. Já era hora do recreio e ela já estava saindo do seu assento também.
- Vamos procurar a Vivian. Eu estou percebendo algo. – Eu disse. Provavelmente eu deveria estar com uma expressão mais séria que o normal.
- O que? - Ela respondeu, interessada.
- Irei falar quando estivermos todos juntos. – Saímos da quadra. Quando passei ao lado da arquibancada, pensei ter visto o professor novo nos encarando, mas no momento que tentei encarar de volta, seus olhos já estavam fitando em outra direção. Mal levamos três minutos para encontrar Vivian e Ana, já reunidas numa mesa distante da cantina e próxima do primeiro prédio da escola, onde havia menos movimento.
- Ei Vivian. – A cumprimentei. Gabi se sentou ao lado dela enquanto me sentei no lado oposto da mesa.
- O-oi Ismael. E ai, como você está? – A resposta era óbvia. Eu estava com grandes olheiras e minha pele clareou depois de ter ficado tanto tempo recluso no meu quarto, sem falar dos remédios que eu estava tomando.
- Melhorando. Lentamente. – Não quis entrar em muitos detalhes. Ana e Vivian pareciam imensamente preocupadas mas pareciam estar hesitando na hora de ir mais fundo ao assunto.
- Antes de qualquer coisa, a Gabi já me contou sobre o que somos capazes de fazer agora. Já mostrei pra ela o que posso fazer.
- Parece que o Ismael pode manipular o vento ou algo assim. – Gabrielle dirigiu a palavra ao resto do grupo. Vivian e Ana se entreolharam.
- Com certeza aconteceu algo com nós quatro depois daquilo. Isso tá muito confuso. – Vivian comentou.
- Sim, mas eu já notei algo. Ao que parece, nós podemos controlar quatro elementos: Fogo, Terra, Ar e Água, certo? – Comecei o pensamento, a atenção do grupo voltou a mim e as garotas assentiram.
- Eu estou começando a achar isso tudo coincidência demais. Um dos quatro elementos para cada um de nós. E do nada um novo professor chegando justo quando voltamos para a escola.
- Novo professor? – Vivian perguntou.
- Você não viu não? O cara era gigante, tinha um metro e noventa. – Ana respondeu por mim. Ficamos em silêncio por alguns instantes.
- Então o que nós fazemos agora? – Gabrielle fez a pergunta que eu queria saber responder.
- Não sei. Eu não posso afirmar nada certo sobre o professor novo também.
- É. Mas enfim, vamos pegar alguma coisa para comer, Gabi. – Vivian disse antes que ela e sua amiga fossem para a cantina. Eu e Ana esperamos alguns minutos até elas retornarem, e em cinco minutos elas já haviam retornado. Vivian se sentou ao lado de Gabrielle. Depois de alguns segundos pensativa, finalmente falou.
- Que tal nós mostrarmos uns aos outros o que nós podemos fazer? – Eu havia pensado nisso antes, porém a escola estava com pessoas por todos os lados.
- Acho que agora seria uma má ideia. – Neste momento me lembrei do estacionamento ao lado do prédio da escola. Geralmente os alunos não ficavam lá. Alguns professores poderiam até passar lá, porém o faziam raramente.
- Podemos ir até o estacionamento. Não tinha pensado nisso.
- Me parece uma boa ideia. Vamos pra lá. Terminamos de comer quando chegarmos e faremos a demonstração. – Todos nós concordamos e andamos para o estacionamento. Naturalmente teríamos que passar pelo lado da sala dos professores para tal coisa. Quando passamos por lá, a porta estava fechada, então fomos direto até o estacionamento. Para nossa surpresa, vimos o professor ao lado de um carro esporte que parecia ser bem mais caro que o dos demais professores. Vivian e Ana pararam onde estavam para vê-lo melhor.
- Ele é gigante. E também sinto alguma coisa a mais vindo dele. – Vivian aparentemente estava com a mesma sensação que sentíamos. Ana assentiu, confirmando que sentia o mesmo que Vivian. Andamos até atrás da árvore, aproveitando que ele estava de costas para nós, e sentamos na grama. Continuamos a olhar para ele por algum tempo. Ele parecia estar procurando algo no carro. Mesmo depois de ter visto ele, ainda era impressionante sua estatura e a sua presença imponente.
- Se continuarmos olhando vamos ficar distraídos. E ai, vamos fazer o experimento ou não? – Perguntei, desviando o olhar dele.
- Com ele ocupado assim, não vamos ter problemas.
- Tudo bem. Vou começar então.
Fizemos as demonstrações uns para os outros rapidamente sem interferência do professor. Ele mal notava em nossa presença. Parecia se importar só em o que estava procurando em seu carro. Após os testes, realmente estava constatado que estávamos manipulando matéria de alguma forma.
- Isso é realmente esquisito. Tenho muitas perguntas e poucas respostas. – Disse a elas.
- Eu acho legal. Eu controlo o elemento do meu signo. – Comentou a ariana. Gabrielle decidiu mexer no seu celular enquanto continuávamos a conversa.
- Não faço a menor ideia por onde começar a explorar isso. Ficamos cansados se manipularmos os elementos por muito tempo, então seja o que for que fazemos, consumimos energia, ou seja, calorias. – Continuei minha fala. Ana assentiu.
- Será que vamos conseguir fazer mais coisas se continuarmos a manipular os elementos? Tipo, se eu continuar a fazer isso com essa pedra, depois vou conseguir atirar rochedos na escola? Por que sério, esse lugar me entedia as vezes. – Vivian deu uma pequena risada e respondeu.
- Ana, deixa de ser boba.
- Eu não sei se isso é possível. – Voltei a atenção para mim. Meu humor não estava muito para brincadeira por causa da situação.
- Só iremos provar isso com o tempo. Alguma de vocês vai pra quadra daqui a pouco?
- Eu e a Vivian vamos. – Ana respondeu.
- Testem se a força física de vocês ainda é a mesma.
- Por que? – Ambas perguntaram.
- Hoje quando eu fui na quadra, notei que meus saques na queimada estavam mais fortes e precisos que de costume. Veja se isso está acontecendo com vocês tamb-
Minha voz parou de sair quando notei o professor passando ao nosso lado, olhando bem para nós. Um calafrio correu minha espinha de cima a baixo, e cada pelo do meu braço se arrepiou. Eu estava completamente atento, e as garotas também estavam cobrindo meu campo de visão. Ainda assim não notamos ele passando. As garotas pareceram ter a mesma reação que eu, e também congelaram aonde estavam. O professor nos olhou por alguns instantes até que ele passou completamente por nós e foi até a sala dos professores. Ficamos em um silêncio assustador até que o sinal que indicava o término do recreio soou.
- É... vamos... vamos fazer o que você nos pediu, Ismael. Procura a gente na grade, no último horário.
Somente assenti. Andamos juntos até a escada que dava para o bloco onde estava minha sala. Nos separamos lá, mas a atmosfera tensa nos fez trocar um olhar, entre eu e Gabrielle com Vivian e Ana, ao invés de dizer algo como “Te vejo depois!” antes que partíssemos por caminhos diferentes. Respirei fundo e andei degrau por degrau. O tempo parecia passar de forma lenta e sufocante, com minha mente num turbilhão de pensamentos tentando desvendar o que estava acontecendo.
“Será que ele escutou a gente?” Me perguntei diversas vezes. Gabrielle não disse mais nada e entrou para a sala. Aparentemente esta não era a melhor situação para ela também. Decidi ficar do lado de fora e olhar para dois grandes prédios que ficavam além de uma área de mata. No espaço entre estes prédios, podia-se ver nuvens negras se aproximando.
Ana POV
Dez minutos depois que havíamos nos separado, já estávamos no jogo de queimada. Era surreal. Eu e Vivian nunca havíamos jogado tão bem, e estávamos no outro time. Havíamos começado como sempre, mas depois de observarmos os que estavam jogando melhor, começamos a pegar o jeito de lançar, desviar, e evoluímos num ritmo extraordinário na partida. Numa das deixas da equipe inimiga, a bola parou na minha mão. Corri a toda velocidade até a linha divisória entre os dois campos e atirei a bola com toda a minha força. No último momento, tive a sensação que a bola sairia com força demais, e desviei sua rota no último instante duma garota que estava ainda no meio da quadra. A bola saiu das minhas mãos e seguiu uma linha perfeitamente reta até se chocar na parede, fazendo um alto som de impacto que eu só havia escutado dos melhores jogadores de queimada da escola.
- Meu Deus, o que deu em vocês eim? Se continuar assim vamos ter que separar essas duas! – Uma de nossas colegas de turma disse, com um tom brincalhão, mas nós duas sabíamos que era coisa séria. Estávamos mais ágeis, fortes, e até nossos pensamentos fluíam melhor nas nossas mentes agora.
“É disso que o Ismael estava falando. Essa força e essa velocidade não são coisas que eu tinha até recentemente. Eu sinto que é algo diferente surgindo dentro de nós, e se tornando mais forte a cada instante. ”
Surgiu um pequeno sorriso no meu rosto. Senti o mundo ao meu redor ficar mais lento. A sensação de obter esse poder penetrou na minha mente como um entorpecente, e meus instintos pareciam estar tomando controle de parte de minhas ações, enquanto a velocidade dos meus pensamentos acelerava ainda mais. O jogo ficava cada vez mais intenso, com a troca de ataques entre os times se tornando cada vez mais rápida, mas enquanto alguns já começavam a se cansar ou serem queimados, eu e Vivian seguíamos fortes, porém Vivian estava olhando para mim, surpresa por alguma razão. Em um momento olhei para ela por vários segundos. A bola foi lançada na minha direção, e vi seu rosto se inclinar para o lado em câmera lenta. Senti algo vindo na minha direção, e mesmo sem olhar para a bola, meu corpo se inclinou para trás e enxerguei a bola entrando no meu campo de visão, tocando nos meus cabelos por uma fração de segundo antes de seguir seu trajeto, sem fazer contato com meu corpo. Vi o rosto de choque de todos os jogadores presentes com o canto dos meus olhos, ao me verem desviar de tal maneira descomunal. O mais impressionante veio após isso, quando percebi que poderia pegar a bola. Com o simples movimento do meu braço no tempo correto, consegui pegar a bola mesmo estando naquela pose.
Fiquei olhando a bola por alguns segundos, ao perceber o que eu havia acabado de fazer, e logo em seguida voltei para minha posição.
“ O que é que eu acabei fazer!?” Me perguntei. Eu estava com uma mistura de empolgação e medo de mim mesma naquele momento. Olhei ao meu redor, e eu só havia percebido agora que todos na quadra estavam enlouquecidos com o fato de eu ter pego a bola de maneira incrível.
- Ana mito!!
- Menina, tu é ninja! – Todos estavam celebrando como se eu tivesse feito um milagre, no entanto eu sabia que não havia feito aquilo por mera sorte. Achei que era a hora de sair, já que senti meu corpo pesar um pouco após a intensa partida.
- Vivian, eu vou sair um pouco.
- Espera! Eu vou com você. – Ela me seguiu. Escutamos um grande “Ahhh!” do nosso time. Era bem provável que eles fossem perder sem nossa ajuda, o que gerou certas reclamações. Uma pena, mas agora eu tinha assuntos importantes. Eu e Vivian procuramos assentos distantes do resto das pessoas no meio da quadra. Nos sentamos uma ao lado da outra.
- Ana, o que você fez não é normal. Nem eu que tava jogando melhor que o normal consegui fazer aquilo!
Eu não sabia explicar o que havia acontecido. Parecia que a sensação de ter essa “magia” dentro de mim havia me tomado por completo por alguns instantes.
- Eu não entendo bem, mas acho que me empolguei. – Vivian não pareceu satisfeita com minha resposta.
- Isso não responde muito. Bem, eu não julgo você por isso, já que a situação atual é confusa. Mas você estava agindo de forma tão…
- Tão?
- ... Acho que natural é a palavra.
Senti que Vivian havia acertado em cheio. Embora eu estivesse empolgada naquela hora, eu sentia como se eu estivesse agindo sem pensar na situação atual. Eu estava curtindo o jogo e o fato de eu ter melhorado tanto, sem pensar muito na magia em si. Quando fiz aquilo, a sensação incrível passou por todo o meu corpo.
- Acho que é exatamente isso. Naquele momento eu só queria jogar bem e me divertir. Eu estava tão empolgada e excitada com o jogo pelo fato de eu estar indo bem, que depois de certo ponto, tudo parecia fluir perfeitamente nas minhas ações. Tudo estava lento diante de mim e meus instintos pareciam responder em perfeita sincronia com minha mente.
- Quê? – Vivian levou alguns segundos para processar, mas ela entendeu ao fim de dez segundos de silêncio e uma engraçada expressão de surpresa.
- Ok. Entendi. Pode ser que isto queira dizer algo. Mas não vamos exagerar. Vai que do nada eu faço isso e uma explosão de fogo sai de mim?
- Sim. É melhor tomarmos cuidado. Se continuarmos a jogar todo o dia assim, vamos começar a ser estranhadas. Se fizermos isso só hoje, vão achar que foi sorte.
- Exato. Por enquanto, vamos ficar calmas.
Passamos o resto da quadra conversando sobre outros tópicos do dia a dia, mas no fundo eu estava inquieta com a situação. Eu não era exatamente o tipo de pessoa que expressava de cara o que eu estava sentindo para todo mundo, a não ser pessoas bem próximas como a Vivian. Embora eu estivesse contente com a sensação de poder e controle, eu estava com medo de não conseguir controlar eu mesma e possivelmente ferir pessoas ao meu redor. Infelizmente minha personalidade não me permitia mostrar aquilo. Não queria preocupar Vivian mais do que ela já deveria estar. Sem falar que eu não estava com humor pra escutar conselhos.
Depois da aula, tivemos um horário de matemática. Geralmente quando eu olhava para as funções de matemática antigamente, a vontade que me dava era de sair desenhando figurinhas nos gráficos de tanta frustração ao ver que eu não conseguia entender dez por cento da matéria, mas naquela aula foi diferente. Pude entender, e entender bem a aula. No final do horário, me reuni com Vivian e saímos juntas.
- Foi impressão minha ou a aula foi bem fácil hoje? – Perguntei.
- É. Estranho. Será que é mais algum efeito do que está acontecendo com a gente?
- Pode ser. – Respondi e então descemos para nos encontrar com Ismael. Contamos-lhe tudo que havíamos passado na quadra.
- Entendi. Eu vou pensar a respeito disso no escolar. Assim que eu chegar em casa, vou entrar em contato com vocês. – Ele parecia estar com pressa. Fazia sentido, já que ele ia para a escola num escolar.
- Certo. Vamos esperar você nos retornar. Nos vemos em breve.
Ismael se separou do grupo e foi correndo para seu escolar. Gabrielle também se despediu em seguida e foi para seu escolar. Vivian e eu continuamos a jogar conversa ao lado do portão da escola até que meu escolar chegasse. Cinco minutos de conversa após a Gabi sair de nossa companhia, vimos o carro do estranho professor sair pela garagem e ir embora. A sensação de estranheza voltou, e logo em seguida meu escolar chegou.
A impressão que eu tinha, era que estes eventos não iriam acabar tão cedo.

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